A gastronomia de um país é, na maioria das vezes, herança cultural do povo local, mais uma pitada de outras culturas que um dia visitaram esse lugar.

“Na maioria das vezes”, pois podemos considerar que ainda existem povos isolados no mundo.

No Brasil, nossa rica gastronomia, apreciada por todos, é herança dos povos indígenas, portugueses e africanos.

Queremos conversar justamente sobre Portugal, pois o país mais antigo da Europa pode ser considerado o maior influenciador da gastronomia mundial, segundo a BBC. Muito antes de existir Instagram e Youtube, os portugueses já eram grandes influenciadores. Sua fama vem desde a época das grandes navegações, no século XV.

Os lusitanos foram pioneiros em grandes viagens, fazendo diversos intercâmbios culturais com a África, a Ásia e a América. Essas viagens acabaram também sendo oportunidades para exportar e importar a culinária portuguesa.

A gastronomia local

Essa diferença se vê dentro do próprio país, onde no norte facilmente encontramos uma gastronomia condimentada com alho, cebola, louro e salsa, enquanto no sul o coentro, o alecrim, o orégano e as mentas (hortelã, poejo, etc.) são típicos da culinária.

A diversidade de temperos encontrados em Portugal, como coentro, pimenta-do-reino, cúrcuma, açafrão, canela, etc. são heranças das viagens de Vasco da Gama para as Índias (países banhados pelo Oceano Índico).

E os ingredientes não param por aí. Podemos dizer que os portugueses souberam muito bem adaptar seus cozidos tradicionais com o famoso “quitem” (o que tem para hoje). No Brasil, a batata foi substituída pela mandioca, o jiló pela berinjela, a laranja por limão e os pinhões pelas castanhas.

Na bagagem das grandes navegações não havia espaço para alimentos. Dessa forma, a estratégia era levar o essencial e confiar na pacificidade dos nativos para garantir a próxima refeição.

Aqui, não aprofundaremos a diplomacia portuguesa nos territórios explorados, mas sabe-se que a troca de alimentos entre anfitriões e visitantes foi fundamental para garantir a subsistência.

Angola e Moçambique

As primeiras navegações portuguesas foram em território africano. Em 1482, Portugal desembarcava em Angola, com Diogo Cão e em 1498 em Moçambique, com Vasco da Gama. As viagens à África resultaram em grandes conhecimentos da gastronomia, que posteriormente chegariam ao Brasil e hoje fazem parte da nossa cultura.

A pimenta-malagueta, a banana, o gengibre, o azeite de dendê, o quiabo, o inhame, o amendoim, o coco verde e o jiló são exemplos de alimentos de origem africana que posteriormente foram lavados a Portugal, Índia e Brasil.

Não podemos afirmar o que motivou os portugueses a levarem esses alimentos de volta a Portugal. Talvez a falta de comida ou a oportunidade de plantar coisas novas, mas o fato é que isso enriqueceu muito a gastronomia mundial.

Uma curiosidade é que a pimenta-malagueta é chamada de piri-piri em Angola e em Moçambique, nome que também foi adotado pelos portugueses.

Índia

Depois de Moçambique, a viagem de Vasco da Gama desembarcou na Índia para promover um dos primeiros contatos entre europeus e asiáticos da história. Na gastronomia, a visita dos portugueses foi influente em receitas como Kashmiri, Sorpotel, Bebinca, Kulkuls e Samusa.

Novamente a pimenta-malagueta em destaque, esse ingrediente é usado no preparo do Kashmiri. Ou seja, um alimento de origem africana levado por portugueses à Índia. Marca do intercâmbio gastronômico promovido por Portugal.

Japão e Macau

As navegações portuguesas rumaram ao oeste, chegando a Macau e ao Japão. Nesses dois países, Portugal também soube se adaptar aos alimentos locais para garantir suas refeições.

Portugal pode ser considerado especialista em cozidos e frituras, pois essas técnicas de preparo já eram parte da gastronomia antes das navegações. Sem dúvida isso foi importante na adaptação das receitas, pois essas técnicas de preparo foram amplamente usadas durante as viagens à Macau e ao Japão.

Como herança gastronômica, podemos citar a famosa tempura, no Japão, e o arroz gordo, cabidela de pato e crepes, em Macau.

No Japão, o preparo da tempura, inspirado na famosa receita portuguesa de peixinho da horta, foi influência de Portugal enquanto os lusitanos estavam por lá.

Em Macau, o arroz gordo tem referências dos cozidos portugueses, que também é muito semelhante à forma como fazemos a feijoada brasileira.

Brasil

E, claro, o Brasil não poderia ficar de fora dessa lista. Uma das melhores gastronomias mundiais é a nossa e muito por influência das três culturas que coabitaram o país em 1500: indígenas, africanos e portugueses.

Do Brasil, o solo fértil para tudo que se plantava, além de alimentos como a mandioca, o milho, o açaí, o cupuaçu, a castanha, a pinha, a goiaba, a taioba etc.; de Angola e Moçambique, alimentos como a pimenta-malagueta, a banana, o azeite de dendê e o quiabo; da Índia, os temperos; e de Portugal, as técnicas de preparo.

Nesse caldeirão foi criado a gastronomia brasileira, com o famoso tempero brasileiro, que inclui a feijoada, o cuscuz, o tacacá, a moqueca, o tucupi, o mingau, a canjica, entre muitos outros.

Navegar por novos sabores nos inspira

Assim, Portugal influenciou e foi influenciado em todas suas expedições, compartilhando ingredientes, receitas e técnicas usadas até hoje na gastronomia mundial.

As histórias acima são apenas os relatos de um país em suas diversas expedições há 500 anos. No mundo, são 195 países com pessoas que viajam o tempo todo levando e trazendo suas culturas para onde quer que vão.

A gastronomia, sempre presente nos momentos felizes, acompanha essas viagens e se enriquece com novas experiências e sabores.

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