Ao navegar por novas histórias, encontramos esse belo texto do Léo Bourdin, “Les sardines en boîte, c’est le grand « luxe » !“, publicado no Le Monde, da França. Léo, jornalista especialista em gastronomia, conta sua experiência com as sardinhas em lata premium, destacando sabor, produção e receitas. Traduzimos a matéria e você confere o conteúdo completo abaixo.

As Sardinhas em Lata são um Grande Luxo

Presentes em empórios finos, com aspectos de peças de museu, os pequenos peixes marinados em azeite e outros temperos são artesanais e “vintages” e já aparecem em restaurantes chiques.

Se existe alguma coisa que se come no planeta terra, por mais absurdo que seja, saiba que na rede social da TikTok, haverá alguém com uma filmagem de si mesmo comendo algo ingurgitável. Outro dia, entre as visualizações de uma degustação de rações militares (dezenas de milhares de visualizações) e a de um tutorial de fabricação de um queijo artesanal medieval (um milhão e cem mil visualizações), descobri mais uma curiosidade culinária.

O polegar ficou vermelho de tanto movimento de vai e vem sobre a tela do celular e mergulhei em um mundo novo e fascinante, mas muito reconfortante, que é o mundo dos influenciadores de sardinhas em lata.

Tudo começou com um episódio da série “Tinned Fish” publicado por Mei (@daywithmei, com 163.000 seguidores). Nesse vídeo de 55 segundos, a Sino-Americana Tiktoker, especializada na recomendação de conservas de peixes enlatados, está lutando para abrir uma latinha de ovas de sardinhas picante, da marca portuguesa Nuri. Essa é uma das latinhas de conservas mais caras e raras do mundo devido à sua sazonalidade e disponível uma vez por ano com apenas 100 unidades produzidas. Ela foi comprada diretamente da conserveira por 40 euros.

fotografia com embalagens das conservas premium da Nuri, parceira da Fui ao Mar no Brasil

A objetiva da câmera passa no modo ponto de vista e seus olhos se tornam os daqueles a assistirem. Mei tira a latinha da embalagem de papel como se estivesse abrindo um presente caro e precioso, depois abre o anel da latinha com seu polegar e indicador. A tampinha de metal se enrola lentamente sobre ela mesma, antes de revelar cerca de vinte gomos marrons brilhantes, embebidos em uma marinada de azeite de oliva picante. Vem a degustação e Mai exclama com a primeira garfada com a boca cheia de minúsculas ovas viscosas. Chegam os primeiros comentários da degustação: primeiro a textura da conserva (lembrando um creme cozido, fino e granulado) e depois, seu sabor e seus aromas (notas de peixes distintos com um pouco de mineralidade), qualquer coisa de espetacular.

“Mas desde quando, exatamente, se abre uma lata de sardinha como se desflora uma lata de caviar?, perguntei-me, com o apetite crescendo, enquanto tirava o pó do fundo do meu armário”.

“É o que faz o valor de uma conserva, é antes de tudo a qualidade do peixe pescado e a maneira como ela é fabricada”, explica Thomas Feyrignac, cofundador da epiceria especializada Nouvelle Vague, localizada em Bordeaux, na qual podemos encontrar mais de 400 referências vindas da Espanha, França, Portugal e Itália. As pequenas conserveiras praticam a pesca somente no período correto, fora da desova, de maneira muito seletiva, no momento em que os peixes possuem a quantidade ideal de gordura. Eles são desembarcados no porto, onde são trabalhados no mesmo dia em que são cozidos e enlatados. Tudo feito à mão, desde o evisceramento, ao banho de salmora e depois a cocção frita ou assada e, finalmente, as receitas e marinadas e a esterilização final das latas. Uma maneira de fazer que influencia no gosto, na textura e na manutenção dos valores nutricionais.

Saiba como a sardinha em conserva é produzida

foto de uma receita de sardinhas com rodelas de limão em uma panela e uma lata de sardinha em conserva gourmet da La Compagnie Bretonne, fornecedora parceira da Fui ao Mar no Brasil

“Na França, há um tempo atrás, a imagem das conservas não era positiva, agora, nos tempos atuais, as conserveiras possuem uma ferramenta absolutamente maravilhosa, onde pegam uma mercadoria extremamente perecível e dão a ela uma vida útil infinita”, me confidenciou ao telefone Lucie Lesgourgues, uma antiga cozinheira formada pela escola Ferrandi, que está agora na microconserveria artesanal Pirate. No seu site, eu fixo meus olhos sobre oito receitas que compõem sua gama: uma lata de filé de atum branco no molho teriyaki e uma outra receita à base de trutas dos Pirineus cozidas no molho missô branco, com gengibre e vinagre de arroz.

Depois de alguns dias, recebi um pacote na minha porta. Era a minha vez de sentir a emoção do estalo do metal rolante e das papilas gustativas que são despertadas. Felicidade simples, felicidade em uma latinha!

Publicada originalmente no dia 19 de novembro de 2023 pelo jornal Le Monde, da França, no editorial Le Monde passe à table. A reportagem foi escrita por Léo Bourdin.

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