A primeira lata de sardinha em conserva da história foi produzida na França em 1810, por Joseph Colin, na cidade de Nantes. Logo depois, em 1824, o filho de Colin, Joseph-Pierre Colin, abriu a primeira fábrica de peixes em conserva e deu início à indústria conserveira na França.

O empreendimento de Joseph-Pierre Colin era baseado no processo hermético de conservação de alimentos, criado por Nicolas Appert em 1795, também na França.

Não por acaso a sardinha foi o alimento escolhido para esse pontapé inicial das conserveiras francesas. Desde a Idade Média, a prática de conservar sardinhas já era feita com vinagre e azeite ou manteiga derretida. Além disso, a sardinha era a espécie de peixe mais encontrada na região de Nantes, costa norte da França.

A fábrica de Colin produzia cerca de 300 mil latas de alimentos em conserva por ano, das quais 100 mil eram sardinhas. Esse relativo sucesso estimulou outros empreendedores da região e Nantes passou a ser a “capital das conservas” ou “capital das sardinhas”. Em 1880, eram 150 fábricas operando em várias cidades, como Nantes, Douarnenez e Les Sables d’Olonne.

Consequentemente, a produção anual também cresceu, passando de 3 milhões de latas em 1850 para 82 milhões em 1879. Nessa época, a produção era quase toda feita à mão e as conservas eram consideradas uma gastronomia de luxo. Outro fator que encarecia o produto era a dificuldade de encontrar materiais e ingredientes locais, como o azeite importado da Itália e as latas importadas da Inglaterra.

Por outro lado, o mercado de trabalho estava aquecido e 14 mil pessoas estavam empregadas em fábricas de conservas, sem contar outras pessoas que participavam da operação, como pescadores e comerciantes.

Produção a todo vapor na virada no século XX

Até este momento da história, todos os avanços tecnológicos possibilitaram que a produção de sardinhas em conserva aumentasse mais e mais a cada ano. No início do século XX, a mecanização da produção aumentou a capacidade produtiva e a indústria conserveira francesa vivia seu auge, quando, em 1902, a pesca predatória acabou com as sardinhas da região.

A partir disso, a sardinha teve que ser importada de outras regiões, como Portugal e norte da África, além da produção de conservas com outras espécies, como cavala e atum.

Como a disponibilidade da sardinha é sazonal, a pesca de atum e cavala possibilitou a produção de peixes em conserva durante o ano inteiro.

Essa guinada na indústria conserveira na França foi importante durante a primeira metade do século XX, principalmente nas Grandes Guerras, quando foi responsável pelo abastecimento alimentar da população. Mas esse fôlego foi arrefecendo novamente após a Segunda Guerra Mundial. Em 1960, a França tinha 230 fábricas de conserva, mas que conviviam com dificuldades para manter a produção a todo vapor, renovar os equipamentos e competir com o mercado internacional.

É o período marcado pelas grandes fusões entre as conserveiras que, em apenas 10 anos, fez com que restasse apenas uma fábrica de conservas em Nantes, a “capital das conservas”.

Quantas fábricas de peixes em conserva existem na França atualmente?

Atualmente, restam 16 produtores de peixes e frutos do mar em conserva na França, empregando cerca de 10 mil pessoas. O custo aumentou, a busca pela qualidade se transformou no maior atrativo do produto, comercializado como uma gastronomia vintage e com um olhar atento à sustentabilidade.

Essas novas características têm agradado cada vez mais o paladar dos consumidores franceses. Uma pesquisa realizada no país mostra que 80% dos entrevistados têm alguma latinha de peixe em conserva em casa e 69% acreditam que esse alimento é essencial no dia a dia.

Além disso, essa mesma pesquisa confirma que os franceses reconhecem as atitudes sustentáveis das marcas. Para 66% dos entrevistados, o uso de embalagens recicláveis é fator decisivo no momento da compra. Essa mesma pesquisa aponta que 71% das pessoas sabem que a pesca é regulamentada para evitar a extinção de espécies e 61% confiam que empresas seguem essas regras.

Com muitas reviravoltas, a indústria conserveira francesa segue se reinventando mesmo após 200 anos. Esse é o caminho natural para que essa gastronomia continue existindo e presenteando nosso paladar.

Agora que você navegou por essa história, é hora de conhecer um pouco mais quem são as fábricas de conserva.

A La Compagnie Bretonne e a Pointe de Penmarc’h são fornecedoras parceiras da Fui ao Mar, marcas centenárias e de grande tradição na indústria conserveira na França.

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