Durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais a indústria conserveira portuguesa foi uma das principais responsáveis pela alimentação dos soldados de ambos os lados. Esse é apenas um dos capítulos da história quase bicentenária da produção de peixes e frutos do mar em conserva em Portugal.
Uma história onde não faltam trabalho, tradição e sabor. A primeira fábrica foi inaugurada em 1853, por Sebastián Ramirez, que fundou a Ramirez Conservas, que não por acaso também é um dos fornecedores parceiros da Fui ao Mar. Pioneira, a Ramirez Conservas pode se orgulhar de ter vivido os altos e baixos da fabricação de conservas e resistido para contar essa linda história.
Da produção em escala para a gourmetização, atualmente as conservas portuguesas são notoriamente reconhecidas pelo sabor. Os métodos foram aperfeiçoados, novos sabores foram descobertos e os peixes e frutos do mar em conserva de Portugal ganharam destaque mundial pela excelente qualidade.
Quer navegar pela história da produção de conservas em Portugal? Continue a leitura!
Simplicidade e inovação
A primeira notícia que se tem sobre um produto enlatado é de 1810, pelo francês Nicolas Appert, na publicação do seu livro “A Arte de Conservar Todas as Substâncias Animais e Vegetais”.
O modelo hermético de lacração das latas foi uma revolução na arte de conservar comida, pois a geladeira só foi inventada em 1876, pelo francês Charles Tellier. E o modelo doméstico de geladeira, como o que usamos em casa, só foi comercializado na década de 1910. Ou seja, durante 100 anos a conserva foi a tecnologia mais avançada.
No processo de conservação de alimentos em lata, um alimento como o peixe, que estragaria em poucas horas a uma temperatura de 25ºC, se mantém preservado por anos.
Isso acontece porque a lacração hermética das latas retira todo o ar, eliminando a possibilidade de sobrevivência das bactérias. Assim, os únicos ingredientes são: o peixe, o sal e o azeite. No blog da Fui ao Mar tem um artigo sobre a fabricação de peixes em conserva.
Muito antes da geladeira e das latas, os alimentos eram conservados em processos simples de desidratação, fermentação ou salga.
Mas por que Portugal é um fenômeno mundial na produção de peixes em conserva?
O “país de entrada” da Europa tem uma localização privilegiada em termos de biodiversidade marinha. Isso acontece pelo fato de Portugal ser próximo do ponto de reprodução de peixes e frutos do mar que percorrem a corrente do Golfo.
Nós explicamos como essa corrente marítima influencia na pesca em nosso blog. Outra ótima indicação de leitura!
Além disso, a vida da pesca sempre foi uma tradição portuguesa. As idas e vindas ao mar para garantir o alimento diário é muito tradicional para os lusitanos.
E tem mais! Portugal possui uma gastronomia riquíssima em sabores. Eles dominam a arte do preparo de peixes como sardinha, atum, carapau, cavala, salmão, bacalhau etc. Os portugueses consomem em média 61,5 kg por habitante, sendo o terceiro no ranking mundial.
Diversos motivos que fazem de Portugal um potencial produtor de conservas.
400 fábricas funcionando a todo vapor
Um fato curioso sobre essa história é que os portugueses nunca foram os principais consumidores de suas próprias conservas. O país sempre teve a exportação como o principal mercado.
Há cem anos atrás, a exportação correspondia a 90% da produção. Há 10 anos, Portugal exportava em torno de 65% dos pescados em conserva.
Empolgados pela demanda externa, a indústria de conservas em Portugal chegou a ter 400 fábricas trabalhando simultaneamente. O auge da produção foi no período da Primeira Guerra Mundial, quando a exportação passou de 25.794 toneladas em 1913 para 40.838 toneladas em 1919.
Nesse período, o número de fábricas também cresceu, passando de 106 em 1912 para 223 em 1918.
Após o fim da guerra, o mercado estava em alta e muitos empresários apostaram nas conservas como um negócio do futuro. Mesmo com a demanda em queda, o número de fábricas cresceu, chegando a 400 em 1926.
O resultado de um mercado inflacionado foi óbvio: muitas conserveiras quebraram por falta de demanda. Outro motivo que dificultou a economia foi a regulamentação do Governo português na época, com taxas e tributos sobre os produtos. Por fim, ainda há o fato de que o consumo nacional sempre foi menor, não havendo demanda interna para sustentar a alta produção.
Mesmo com um novo aumento na demanda em 1938, por causa da Segunda Guerra Mundial, somente 158 fábricas estavam funcionando. A maioria quebrou, acumulando enormes dívidas e demitindo centenas de funcionários.
A volta por cima, com sabor e sofisticação
Após essa dura queda, a indústria de conservas de Portugal teve que se reinventar. Foi quando os produtores identificaram um novo mercado que apreciava conservas de qualidade, com mais sofisticação e sabor.
Nas décadas anteriores, o produto era visto como uma comida rápida, simples e barata para alimentar tropas.
Nas décadas seguintes, mesmo mantendo a técnica artesanal de produção, a qualidade melhorou muito. O grande diferencial foi a seletividade de ingredientes para resultar em conservas mais gostosas.
Da pesca no mar à linha de produção, agora existem criteriosas condições para selecionar os pescados que serão enlatados.
Novas receitas também foram criadas para agradar o público. Além do azeite e do sal, agora encontramos conservas com temperos especiais. O sabor é incorporado à carne dos pescados durante o processo de conserva, deixando-a ainda mais deliciosa.
A demanda caiu, mas a exigência da qualidade subiu. Hoje, segundo a Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP), existem 20 fábricas de conservas em Portugal. Dentre elas as fábricas da Ramirez, a Nuri e a Luças, nossas fornecedoras.
A sofisticação fez de Portugal um país premiado por suas conservas. Isso estimulou pequenos produtores, que também fabricam artesanalmente em pequena escala. Dessa forma, a cultura e a tradição da indústria de conservas de Portugal foram mantidas e prometem viver por muitos anos.
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