A Real Conservera Española, nossa fornecedora parceira, foi eleita a melhor conserveira do mundo pela World’s Best 101 Canned Food Products from the Sea.
Orgulhosamente damos essa notícia por conta da parceria exclusiva entre RCE e Fui ao Mar no Brasil. E, para celebrar, trazemos para você a entrevista do presidente da Real Conservera Española Borja Sánchez Campos para o jornal El Mundo, da Espanha.
Confira a entrevista na íntegra!
Borja Sánchez Campos: “As conservas galegas estão ao nível do foie e do caviar”
Borja Sánchez Campos. Bilbao, 1970. Empresário, presidente da Real Conservera Española, reconhecida como a melhor conserveira do mundo de produtos do mar em 2021, pela World’s Best 101 Canned Food Products from the Sea.
Como se consegue ser a melhor empresa de conservas do mundo?
Com uma grande equipe, desde as mariscadoras até todas as pessoas que trabalham na fábrica, e estimulando muito carinho de todos ao fazer seu trabalho. E tendo um grande produto como é o marisco galego. Eu acho que essa é a chave do sucesso.
Uma boa anchova, um bom mexilhão é…
Uma delícia, um manjar, uma iguaria. As conservas de qualidade são um prato gourmet. Na verdade, nós queremos reposicionar a conserva galega ao nível do foie, do caviar, do salmão, dos grandes petiscos. Do ponto de vista organoléptico, o caviar de esturjão e o caviar de ouriço são 90% iguais.
E qual é a diferença?
Pois é. O esturjão souberam vender. Vende-se a um preço caríssimo e, ao contrário, o ouriço, um manjar requintado, que é como levar um pedaço de mar à boca, vende-se infinitamente mais barato. Queremos que os produtos de que dispomos sejam valorizados, começando pela Espanha e depois por todos os outros países do mundo. Para mim, os nossos são os melhores produtos do mundo, mas não sabemos vendê-los bem.
Somos maus no marketing?
Não é o nosso forte, não. Outros países, com produtos que não têm a qualidade dos nossos, fazem um packing maravilhoso, os apresentam muito bem, conseguem que esses produtos sejam vendidos caros e que sejam considerados melhores que os nossos, quando não o são.
Então, sofremos de certo complexo de inferioridade?
Acho que sim. Precisamos de mais pessoas como Amancio Ortega, como Rafa Nadal, Fernando Alonso… Pessoas muito boas no que fazem, que são orgulhosas do que fazem, que seguem pela vida sem nenhum complexo, que chegaram ao número um, que conseguiram. E quando lhes perguntam se são os melhores no que fazem não têm falsa modéstia e dizem “Sim, somos”, e continuam a confirmar isso naquilo que fazem. Me parece que é esse o caminho que temos de seguir.
Um preço baixo pode afetar negativamente um produto?
Em muitas ocasiões sim. Quando um produto tem um preço razoável, com frequência se pensa que é medíocre. Juan Mari Arzak sempre nos diz que se as sardinhas fossem caras, as pessoas matariam para comê-las. Agora, como são um produto barato, as pessoas não as valorizam. Mas quando começar a haver escassez de sardinhas, e já está começando, elas serão valorizadas e nós vamos arrancar os cabelos por não termos sabido apreciar antes. Temos que valorizar os produtos que temos, ensinar o resto do mundo a valorizá-los e não ter complexo em vender o nosso como o melhor, porque é o melhor.
As conservas da Real Conservera Espanõla não são precisamente baratas…
De fato, as nossas conservas não são baratas. Mas, além dos prêmios que nossos produtos recebem, somos a conserveira com a qual trabalham mais chefs com estrelas Michelin. Quando, por exemplo, não há amêijoas frescas no mercado e eles precisam desse produto para seus pratos, utilizam as nossas. Isso significa que a qualidade dos nossos produtos é altíssima.
Os produtos da Real Conservera Española são vendidos em 24 países. Quais são países que mais valorizam as conservas galegas?
Itália, França, Espanha e Portugal. Na Itália, o que mais apreciam são as nossas anchovas. Na França valorizam especialmente a xouba, a sardinha galega. E Portugal é bastante parecido com a Espanha.
Uma lata de conservas, é melhor comer logo?
As latas duram muitos anos. Nós fizemos uma análise de algumas de nossas latas que tinham 10, 12, 14 anos e estavam perfeitas. As levaram a um laboratório, verificaram, e nos disseram que estavam como no primeiro dia. Com efeito, muitas vezes as conservas ganham com o passar dos anos, porque vão ficando como se fossem manteiga. Na França, chamam a isso de macerar, não envelhecer. E na França podem pagar até 500 euros por uma lata de sardinhas.
Qual é o maior erro que cometemos com latas de conserva?
Colocá-las na geladeira. Na geladeira o resfriamento é lento, e isso quebra as microfibras do molusco, podendo deixá-lo muito mole. As latas devem ser armazenadas à temperatura ambiente. E, pouco antes de comer, as latas de produtos em caldo, em água do mar com salmoura ou em escabeche, é preciso colocá-las três ou quatro minutos em água com gelo, porque desse modo o resfriamento é rápido e, ao comermos, sentimos que o produto explode na boca. Já as latas de produtos em óleo não devem ser resfriadas, porque o óleo fica turvo.
Já sentem a mudança climática?
Sim, notamos. Nós não queremos acabar com os mariscos, não queremos acabar com os peixes. E uma maneira de fazê-lo é vendendo mais caro. Queremos poder pagar mais às nossas mariscadoras, às pessoas com reumatismo por levar a vida agarrando mariscos à mão, enquanto na Ásia o apanham metendo umas máquinas enormes que arrasam com tudo. E também queremos que haja repouso no mar, deixar que o ecossistema marinho descanse e se recupere, porque se pescarmos indiscriminadamente há espécies que vão desaparecer.
Como se chega a presidente da melhor conserveira do mundo?
Comecei nisso para ajudar um amigo. Esse amigo tinha tradição familiar no mundo das conservas, essa empresa, de fato, era o prolongamento de uma que começou a funcionar em 1920. Mas essa pessoa foi muito mal e quando levou a companhia à falência, Antonio Soto, um dos sócios, disse que não tinha coragem para deixar todas as famílias dos empregados na rua. Eu também não. Então nós compramos a parte dele, tomamos as rédeas da empresa e demos uma guinada. Agora estamos posicionados em 24 países. Não se trata de mais nada que carinho, e a sorte de ter um ‘superproduto’ como é o marisco galego e o peixe que temos na Espanha.
Os mexilhões, os berbigões, as anchovas… Tem sabor de quê?
Lembram-me de quando eu e o meu pai comíamos aperitivos num balcão de bar. O meu pai era apaixonado por mexilhões, e esses momentos de petiscar eu recordo como algo muito profundo. Meu pai morreu há 23 anos com apenas 57 anos. Desde então, sempre que abro uma lata de mexilhões e vejo um pai com um filho, lembro-me do meu. O meu pai gostava muito de comer e tenho a certeza que agora adoraria ver o sucesso a que chegamos com a Real Conservera Española.