Na linha histórica da evolução humana, um capítulo foi tão importante quanto todos os outros: a arte de cozinhar alimentos. Foi a gastronomia que possibilitou o desenvolvimento do cérebro e transformou o ser humano na espécie mais inteligente que existe. A Fui ao Mar leva você para navegar por esta história de quase 2 milhões de anos.

Para chegar a essas respostas, dois pesquisadores foram muito importantes: Richard Wrangham e Suzana Herculano-Houzel. Richard é antropólogo e autor do livro “Pegando Fogo – Por Que Cozinhar Nos Tornou Humanos”, enquanto Suzana é neurocientista e autora do livro “A Vantagem Humana”.

Foram anos de estudo para associar o crescimento do cérebro humano à gastronomia. No último 1,8 milhão de anos, a caixa craniana cresceu de 870 cm³ para 1.400 cm³, sendo capaz de produzir incríveis 86 bilhões de neurônios. O cérebro humano é sete vezes maior do que o esperado para o tamanho do seu corpo e três vezes maior do que o cérebro de gorilas e orangotangos (parentes distantes do homo sapiens).

A evolução humana é impressionante, tal como a gastronomia.

O que seria do ser humano sem a arte de cozinhar alimentos?

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel explica que a evolução humana não teria acontecido de maneira tão rápida.

O grande segredo por trás dos alimentos está na quantidade de energia que eles fornecem para o corpo realizar as atividades do dia a dia. O grande diferencial do ser humano, ao cozinhar alimentos, foi consumir uma quantidade muito maior de calorias em menos tempo. Com isso, aproveitar mais e melhor as horas vagas do dia.

Segundo o estudo do antropólogo Richard, se o ser humano ainda dependesse de uma alimentação crua, passaria 5 horas por dia mastigando. A pesquisa de Suzana complementa essa informação, dizendo que, para suprir as necessidades diárias, seria necessário 9h produzindo e digerindo alimentos.

Hoje, o ser humano gasta em média 5% do seu tempo mastigando, cerca de 36 minutos. O tempo é algo valioso para a evolução da espécie humana.

Além disso, a arte de cozinhar alimentos faz com que os nutrientes sejam mais bem aproveitados. O sistema digestivo é capaz de digerir 50% de uma porção de amido cru. Se essa mesma porção estiver cozida no formato de um pão branco, a porcentagem sobe para 95%.

O mesmo acontece com as proteínas da carne. Quando cozida, a digestibilidade aumenta em 40%. Isso é possível, pois o calor ajuda na quebra das moléculas, enfraquecendo a ligação química entre elas, facilitando o trabalho das enzimas do sistema digestivo humano.

E, nesse sentido, cozinhar significa assar, fritar, defumar, entre outras maneiras de transmitir calor ao alimento.

Cérebro faminto: o que prova a evolução da espécie humana pela gastronomia?

O cérebro humano é o órgão que mais consome energia, representando 25% dos gastos diários. Sendo assim, a neurocientista Suzana propõe 4 teorias sobre a evolução da espécie humana a partir da arte de cozinhar alimentos:

  1. diminuir o tamanho do corpo;
  2. diminuir o custo energético do cérebro;
  3. obter mais energia gastando ainda mais horas diárias em alimentação;
  4. aumentar de algum modo a energia obtida com a mesma quantidade de alimento (dieta).

Ela descarta as três primeiras, pois nenhuma delas resultaria em mais tempo livre como a quarta. O ser humano é mais inteligente que as outras espécies porque tem mais neurônios e faz bom uso deles.

Quer dizer que quanto mais calorias consumir, mais inteligente o ser humano fica? Não. Suzana explica que o cérebro exige uma quantidade de calorias proporcional ao seu tamanho. No entanto, casos de subnutrição podem prejudicar o desenvolvimento intelectual.

Quer navegar por novas histórias?

Nesta viagem, você descobriu como a gastronomia foi fundamental para a evolução da espécie humana. Muito interessante, não é mesmo?

A gastronomia nos inspira e queremos levar esse conhecimento até você. Conheça outras histórias da Fui ao Mar em nosso site.

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Foto: Farhad Ibrahimzade \ Unsplash

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